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2000. Curso Técnico Formatura REG.P

CHARENTON


Direção Paulo de Moraes

MAR/ABR 2000

Sala Yan Michalski

Unidade CAL Laranjeiras

Livremente inspirada na peça Marat-Sade, de Peter Weiss

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CHARENTON
Mais uma turma que se forma e mais uma vez estamos felizes de poder apresentar um espetáculo que conclui o processo de formação destes novos atores.
Foram trinta e um meses de estudos e práticas teatrais que desenvolveram uma base técnica e artística que a partir de agora, será aprimorada no exercício diário da profissão.
E, de novo, agradecemos ao Paulo de Moraes que pela segunda vez emprestou a sua criatividade e talento, agregando uma equipe de qualidade - Maurício; Marcelo; Márcia; Daniel; Fáthima; Malco - na orientação destes Jovens atores.
CAL - Casa das Artes de Laranjeiras

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PARIS SOB O TERROR . STANLEY LOOMIS

A 2 de junho de 1793 uma turba incitada por Jean- Paul Marat invadiu as Tulherias e, usando a força das armas, expulsou da Convenção Nacional vinte e dois representantes eleitos pelo povo francês, que ali estavam reunidos em sessão. Esses vinte e dois homens eram a espinha dorsal do partido político chamado a Gironda. Embora o partido e os vinte e dois homens estivessem recuados a um plano da História, tinham sido a essência do que a Revolução representava como expressão de idealismo: eloquência e altruísmo, juventude e aspiração nobre.
Naquele mês de junho de 1793 a Revolução Francesa completava quatro anos e no decorrer desse tempo sofrera muitas modificações radicais. Dois Senados e as Assembléias Constituinte e Legislativa tinham-se ido. Heróis de hoje tornavam-se os vilões de amanhã. A monarquia, que se mantivera sob a convulsão durante mais de três anos, fora derrubada por uma multidão que invadira as Tulherias a 10 de agosto de 1792. Cinco meses depois, em janeiro de 1793, Luís XVI foi executado. E, cinco meses após este acontecimento, a 2 de julho, os girondinos muito dos quais haviam votado a favor da execução do rei, foram eles próprios extirpados pelo furacão.
A derrubada do partido girondino pelo motim de Marat é um desses acontecimentos cruciais e decisivos nos quais o leitor e o historiador podem, com vantagem, estabelecer um ponto de observação para o exame da fase da Revolução que se seguiu - o Reinado do Terror. A insurreição de 2 de junho representa o começo do Terror, enquanto que as intrigas, hostilidades e rivalidades que provocaram a queda dos girondinos contribuíram para o seu fortalecimento.
A anarquia, representada por Marat, precedeu o estabelecimento do Tribunal Revolucionário. E a ele seguiu-se a ditadura. Marat, o homem que organizou e executou a insurreição de 2 de junho, foi o mais cruel inimigo dos girondinos. Com a fisionomia crispada e os olhos revirados, ele se comportava, nas horas de triunfo, como um demente. Tendo como cobertura o bacamarte de seu "general", um ex-criado ébrio, de nome Hanriot, e apoiado por seu "exército" de figuras da escória das sarjetas de Paris, Marat invadiu o vestíbulo da Convenção Nacional e exigiu a prisão de vinte e um representantes eleitos pelo povo francês. A turba de Paris, que duas vezes invadira as Tulherias, que derrubara a coroa e ultrajara a Constituição de 1791, agora, por fim, atrevera-se a violar a representação francesa e o corpo sacrossanto da própria Revolução. E tal era o poder de Marat naquele momento que a Convenção mal foi consultada sobre a escolha dos homens que ele queria expulsar.
A queda dos girondinos arrastou à ruína centenas, milhares de pessoas obscuras. Desde o início da Revolução, em 1789, o levante ocorrido em Paris começou a ser observado nas províncias por olhos vigilantes. O desencadeamento das lutas manifestou-se com a mesma fúria nas aldeias e cidades. Lyon, Toulon, Marseille e a Vandéia encontravam-se em luta contra homens que, com razão, eram considerados usurpadores de Paris.
Na Normandia, na velha cidade de Caen, vivia uma elegante jovem que, apaixonadamente, admirava os girondinos. Seu nome, Marie-Charlotte Corday, era então desconhecido. Durante muitos meses acompanhara nos jornais girondinos o declínio desse partido. Nas semanas que se seguiram ao triunfo de Marat, ela se recolheu à solidão, em seu quarto, onde escreveu, em pequenas tiras de papel, repetidamente, a pergunta: "Devo ou não devo?" Seu ar preocupado, seus olhos sonhadores, davam a impressão a seus amigos e parentes de que estava apaixonada. Os habitantes de Caen eram pessoas de limitada experiência, e poucos poderiam imaginar que uma paixão mais forte que o amor se apossasse do coração de uma mulher inteligente.

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PETER BROOK

Creio que o teatro, como a vida, é constituído por um permanente conflito entre impressões e raciocínios - ilusão e desengano coexistem penosamente e são inseparáveis. É exatamente o que Weiss consegue fazer. A começar pelo título (A Perseguição e Assassinato de Jean-Paul­ Marat Apresentada pelos Internos do Hospício de Charenton sob a Direção do Marquês de Sade), tudo nesta peça destina-se a dar um direto no queixo do espectador, depois mergulhá­lo em água gelada, daí forçá-lo a avaliar racionalmente o que lhe aconteceu, para então dar­lhe um chute no saco e depois traze-lo de volta à razão. Não é exatamente contemporânea. Não é exatamente Brecht nem é Shakespeare tampouco, mas é muito elizabetana e extremamente contemporânea.
Weiss não utiliza apenas o teatro total, essa veneranda ideia de colocar todos os recursos do palco a serviço da peça. Sua força não resiste apenas na quantidade de elementos que mobiliza; está sobretudo na dissonância causada pelo entrechoque de estilos. O lugar de cada elemento é definido pelo seu oposto - o sério pelo cômico, o nobre pelo popular, o literário pelo inculto, o intelectual pelo físico; a abstração é vivificada pela imagem cênica, a violência é iluminada pelo implacável fluxo de pensamento. As linhas de significação da peça perpassam através de sua estrutura, resultando numa forma muito complexa. Como em Genet, é um salão de espelhos ou um corredor de ecos - e é preciso olhar para diante e para trás o tempo todo para chegar ao pensamento do autor.
Um crítico inglês atacou a peça alegando que era uma sofisticada mistura dos melhores ingredientes teatrais da moda- brechtianos, didáticos, do absurdo, do Teatro da Crueldade. A intenção era depreciativa, mas faço a citação como um elogio. Weiss captou a utilidade de cada uma dessas linguagens particulares e viu que precisava de todas. Assimilou-as completamente. Um conjunto de influências maldigeridas só pode gerar o caos. A peça de Weiss é forte, sua concepção central é surpreendente inovadora, seu perfil é definido e inconfundível. Pela experiência prática que tivemos, posso afirmar que a força do espetáculo está diretamente ligada à riqueza imaginativa do material. Esta, por sua vez, é consequência da pluralidade de níveis que operam simultaneamente; e essa simultaneidade é resultado direto da ousadia de Weiss ao combinar tantas técnicas contraditórias.
A peça é política? É marxista, segundo Weiss, o que tem sido muito discutido. Não é certamente polêmica, no sentido de que não demonstra uma hipótese nem propõe uma moral. É claro que sua estrutura prismática não permite que se procure a ideia-chave na última linha. A ideia da peça é a própria peça, que não pode ser resumida numa frase qualquer. É incisiva ao tomar o partido da mudança revolucionária, mas com a dolorosa consciência dos vários aspectos de uma situação humana violenta, apresentando-os ao público sob a forma de um perturbador questionamento.

"O mais importante é por-se de pé puxando pelos próprios cabelos. Virar-se do avesso e olhar o mundo inteiro com novos olhos."

Marat
"Como?", perguntará fatalmente alguém. Weiss sabiamente recusa-se a dizer. Força-nos a relacionar os opostos e encarar as contradições. Deixa-nos em carne viva. Em vez de definir um significado, ele o procura e devolve a responsabilidade de encontrá-lo a quem ela realmente pertence. Não ao dramaturgo, mas a todos nós.

  • Direção

    Paulo de Moraes

  • Adaptação de texto, canções originais

    Maurício de Arruda Mendonça

  • Iluminação, cenário e trilha sonora incidental

    Paulo de Moraes

  • Figurinos

    Marcelo Costa

  • Assistente de Direção

    Thales Coutinho

  • Operador de Som

    Uirá Fornaciari

  • Operador de Luz

    Wesley Cardozo

  • Fotografia de Divulgação

    Toni Queiroga

  • Projeto Gráfico

    Afonso Henrique

    João Marcelo Chaves

  • Músicos

    Daniel Dei Sarto

    Fáthima Rodrigues

    Maico Viegas Lopes

  • Montagem de Luz e Cenotécnica

    Marcos Martins

    Ricardo Grings

  • Divulgação

    Pangéia Comunicação e Arte

  • Produção Executiva

    Márcia Quarti

  • Realização

    CAL - Casa das Artes de Laranjeiras

  • Elenco

    Adriana Valente

    Alexandre Varella

    Ana Carolina Athayde

    Amanda Carvalho

    Cacá Meirelles

    Carla Figueiredo

    Daniel Del Sarto,

    Fernando Campos

    Flávia Ribeiro

    Igor Ferreira

    Isabel Pacheco

    João Cunha

    Júlia Improta

    Juliana Terra

    Katia Monique

    Héber Padilha

    Nuno Gouvêa

    Paloma Reyes

    Thiago Magalhães

    Samantha Gilbert

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