OS SELVAGENS

Inédito no Brasil, o texto da peça O Silvano, do contista e dramaturgo russo Anton Tchekhov serve de base para o espetáculo Os Selvagens, criado pelo diretor Jefferson Miranda para uma turma de 16 atores formandos do Curso de Formação Profissional de Atores da CAL do 2º semestre de 2006. A estréia é no dia 23 de outubro no Teatro SESI, no Centro.
Um dos maiores críticos de suas próprias obras, Tchekhov renegou a comédia depois do fiasco na estréia, em 1889. Trata-se, porém, de um saboroso episódio rural que lembra o drama Tio Vânia (1897): uma história de triângulos amorosos e dilemas miúdos. O herói é o proprietário, Krhuschiov, cheio de ideais ecológicos. Tchekhov punha no palco figuras de índole secundária, para melhor explorar situações patéticas. Para o autor, no entanto, O Silvano era uma peça ingênua e por vezes infantil. “De certa forma tinha razão, concorda Jefferson Miranda. “Mas isso pouco importa, já que essa “ingenuidade” traz características exclusivas dessa obra do autor: as relações de seus personagens são leves, joviais e por vezes irresponsáveis. Ao mesmo tempo, o texto conserva a melancolia e o nostálgico que sempre acompanharam o escritor russo. E essa mistura tão singular de leveza e angústia é a base da montagem de Os Selvagens. A base. Porque o todo veio com a contribuição de outras peças do autor e da própria turma de formandos”.
Como os personagens de O Silvano não eram suficientes para todos os jovens atores do elenco, o diretor tomou emprestados personagens e situações de outras obras do autor, como “A Gaivota”, “Tio Vânia”, “Jardim das Cerejeiras, “Três Irmãs” e até de alguns contos. “Assim, a infantilidade de Júlia de “O Silvano” convive com a nesga de esperança de Olga, das “Três irmãs”. O idealismo de Mikail tão presente na peça base é complementado com os sonhos de uma jovem nia do “Jardim” ou de uma sedenta Nina, da “Gaivota”. E tudo disso foi construído não para os atores, mas sim a partir deles”, explica Miranda.
Os Selvagens é, portanto, muito mais do que uma história criada por um jovem Anton Tchekhov, onde os ingredientes do vaudeville estão muito mais presentes do que em toda a sua obra. Mas um mergulho no universo de um Anton Tchekhov atemporal, que existe dentro de cada um. Um universo que se faz presente - independente de estrutura, falas, ou personagens -, seja na Rússia do final do século XIX ou no Brasil de 2006.