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2008.2 Curso Técnico Formatura REG.5E

BOCA DE OURO

Texto Nelson Rodrigues
Direção Adriano Garib

OUT 2008

Centro Cultural Solar de Botafogo

Rua General Polidoro . 180

UMA LENDA SUBURBANA

A excelência dramatúrgica e a modernidade de “Boca de Ouro” são razões sólidas o bastante para nos motivar a voltar nossos olhos para esta “Tragédia Carioca”, cujo autor, Nelson Rodrigues, dispensa comentários.
Entretanto, o que mais nos chama a atenção é o fato de Nelson nos deixar sem respostas em relação a real existência de “Boca de Ouro” no cerne de seu drama. Afinal, existe mesmo o “bicheiro de Madureira”? Ou tudo não passou de um delírio de nossas mentes insaciáveis, conduzidas pelas marés emotivas de Guigui, a suburbana que nos conta três versões de uma mesma história, sem nos satisfazer, ao final da peça, quanto a qual seria a “verdadeira versão”? Pode realmente ser possível alguém ter a pretensão de, ao morrer, ser enterrado num caixão de ouro? Ou de - movido por doentia vaidade - usar uma dentadura de ouro, tudo para afirmar seu “poder” e sua “imortalidade”, e sublimar seu nascimento numa “pia de gafieira”? A verossimilhança, em casos desta natureza, cai por terra! Mas Nelson rechaça com vigor o império da veracidade! Seu ataque aos “idiotas da objetividade” atesta o repúdio do autor a tudo o que nega a subjetividade, talvez a única “realidade” palpável. Ao fim de tantas especulações, é como se o autor nos gritasse, por trás de suas saborosas peripécias narrativas: “Não há verdadeira versão! O que há são apenas probabilidades, todas inteiramente possíveis!”
É provável que Nelson tenha pretendido colocar em questão, com mais este tropo dramático, não exatamente a maldade humana (que parece ilimitada), mas precisamente nossa capacidade de imaginar o quanto a maldade pode ser má. E isso, por irônico que seja, depende menos dos reais atributos do “Boca de Ouro” do que de nossas mentes inevitavelmente comprometidas com a perversão e seus poderes devastadores. Outro alvo evidente do autor na peça é o jornalismo impresso. Como jornalista, Nelson era um convicto ao afirmar as tendências “maquiavélicas” de um certo tipo de imprensa, tão leviana quanto nossas mentes no sentido de reinventar e reforçar os piores atributos do gênero humano, e com nenhuma outra intenção senão a de promover o lucro!
Sabemos todos o quanto pesa a dor e a responsabilidade de fazer este cruel acerto de contas entre nós e nós mesmos! É justo assim que nos sentimos ao encarar a pedreira de levar Nelson aos palcos. E muito embora já tenham dito que suas personagens são obsessivas e doentias demais para expressar a alma humana, também sabemos - nas profundezas de nossa intimidade - o quanto nossos crimes não compensam.

Adriano Garib

  • Texto

    Nelson Rodrigues

  • Direção, ruidagem e trilha sonora

    Adriano Garib

  • Cenografia

    Dóris Rollemberg

  • Iluminação

    Wilson Reiz

  • Figurinos e adereços

    Paola Giancoli

  • Assistente de direção e Operação de som

    Analine Barros

  • A trilha sonora conta com músicas

    Bernard Herrmann

  • Elenco

    Aloan Pimentel

    Anabel Castro

    André Belculfine

    Chimene Stefanini

    Evandro Viegas

    Julia Blum

    Kamila Anhê

    Lazuli Galvão

    Luciana Sol

    Rodrigo Becker

    Rodrigo Escócia

    Thaíra dos Santos

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