ADULTÉRIO

"Adultério não é crime, mas tem seu preço"

Em Adultério, os atores mergulham no universo de Luigi Pirandello para criar um jogo cênico onde realidade e ficção se traem o tempo todo. O adultério, mote inicial da montagem, é só o ponto de partida: aqui, ele é metáfora de uma estrutura dramatúrgica que se desfaz e se reconstrói sem aviso, num fluxo vertiginoso de histórias dentro de histórias. A cada cena, o espectador é convidado a questionar o que é real e o que é representação — até que todas as certezas escorram como areia. Com nomes emprestados dos personagens pirandellianos, os atores rompem o pacto de ilusão e transformam o palco num espelho fragmentado da vida, da arte e de seus limites.

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Com a palavra, o diretor

"Adultério é uma criação coletiva da Companhia Atores de Laura, inspirada no universo do autor teatral Luigi Pirandello. Nasceu a ideia de trabalhar a questão Pirandelliana a respeito da identidade, dos ciúmes e sobre realidade e ficção, com o mote de uma realidade dentro da outra.  

Adultério, este tema ancestral, presente nas relações amorosas, é apresentado como metáfora e pano de fundo de uma estrutura dramatúrgica, que é construída por histórias que originam novas tramas, num processo contínuo que se desenvolve ao longo de todo o espetáculo.

O adultério, portanto, além de tema das narrativas, é uma alusão à própria estrutura dramatúrgica, em que os atores continuamente desconstroem uma realidade cênica para construir outra. A cada momento, o pacto de ilusão que toda plateia estabelece com o artista e sua obra é quebrado. Assim, “Adultério”, mais do que levantar a questão da infidelidade conjugal — trazendo ao palco suas mais variadas nuances e consequências ―, convida à reflexão típica de Pirandello: o que, afinal, é a “realidade” e o que é a “representação”? Existe diferença entre uma e outra? Que fronteira há entre o real e o não real; entre vivência cotidiana e criação artística?  

Em “Adultério”, o espectador é convidado a esta reflexão permanentemente e, eventualmente, é traído pela própria ideia que cria sobre as diferentes realidades que se apresentam umas dentro das outras, numa espécie de espelho em abismo."

Daniel Herz