TERRA DE HERÓIS

"No Brasil, o herói é feito de barro, e o povo é que pisa nele."

Um importante autor teatral brasileiro. Um diretor experiente, talentoso e sensível. Um elenco dedicado e atento ao que o Teatro Brasileiro quer dizer.

Desse encontro poderoso no processo de formatura da turma BT45A, só poderia sair coisa boa: uma montagem teatral que a partir da adaptação cênica de O Berço do Herói e O Rei de Ramos, dois textos emblemáticos da obra de Dias Gomes, refazem os caminhos de obras que ainda dizem muito sobre a realidade contemporânea brasileira.

Com direção de João Batista, o espetáculo oferece uma adaptação que amplia o que há de melhor nas duas comédias. O tom satírico, as alfinetadas políticas precisas e o humor ácido que tanto falam aos brasileiros estão lá, intrínsecos aos personagens e as tramas que nossos atores e atrizes formandos apresentam no palco.

O BERÇO DO HERÓI  se passa no interior da Bahia, e fala de um soldado que “vira herói sem nunca ter sido”. Escrita na década de 60 como uma crítica à forma como se constroem mitos heróicos e, de certa forma, também ao regime militar que marcava o Brasil na época, a peça foi censurada pela ditadura militar brasileira. Anos depois serviu de base para uma telenovela – ROQUE SANTEIRO – cuja primeira versão , em 1975, foi também proibida de ir ao ar pela censura, dias antes da estréia. Anos depois, uma versão da mesma história foi ao ar, tornando-se umas das telenovelas de maior sucesso da televisão brasileira.

Já em O REI DE RAMOS  Dias Gomes mostra o universo que ronda os banqueiros de bicho do Rio de Janeiro, muitas vezes endeusados como figuras míticas que “matam com uma mão, mas distribuem dinheiro com a outra”. Uma trama inspirada em Romeu e Julieta serve para acirrar a disputa entre dois desses “donos do jogo”.

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Com a palavra, o diretor:

“Infeliz a nação que precisa de heróis.” Bertolt Brecht

"A frase de Brecht  foi o mote para a opção de juntarmos, numa mesma montagem, duas peças do grande Dias Gomes (1922/ 1999) : O BERÇO DO HERÓI  e O REI DE RAMOS. O dramaturgo costumava afirmar que fazia parte de uma geração de autores que buscavam levar para o palco aspectos da realidade brasileira e que pagaram um preço por isso, sofrendo muitas vezes com a censura da época. Em ambas as peças que constituem esta montagem ele fala, de forma bem diversa, de “falsos heróis”. Heróis fabricados muitas vezes com o intuito de se aproveitar das carências e da falta de referências de um povo sofrido (...)"

João Batista